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Roldeck.

Júlio Roldão

18.10.2024 06h54mn

No prelo, quase a sair

Ainda estou perdido num canavial que mestre Alberto Carneiro trouxe de Londres para Coimbra nos idos anos 70, pouco depois do meu segundo nascimento, ocorrido - lembro-me como se fosse hoje - a uma quinta-feira, no dia 4 de Novembro de 1971, quando eu estava a caminho dos 18 anos e voltei a nascer. No próximo mês de Novembro, deste ano de 2024, celebro 53 anos (apesar de completar 71 um mês e meio depois), publicando parte da minha Correspondência Interceptada, uma série de cartas ficcionadas teimosamente por enviar aos respectivos destinatários.

21.05.2024 11h28mn

No Metro para a Póvoa

[Análise da actual situação política]

Quando amanheceu o dia
de provar as iguarias
dos povos civilizados,
quando a rua recebeu
poesia em maré cheia
a rimar sincronizada
ao bater do coração,
ninguém adivinharia
que a mais grossa grosseria
voltaria a ocupar
nossos mais belos castelos
nossos sagrados lugares.

20 |05 |2024
Júlio Roldão

18.11.2023 21h00mn

No Coliseu do Porto

Ontem, dia 17 de Novembro deste ano da graça de 2023, viajei no tempo até 20 de Maio de 1990 e aterrei na cidade do Mindelo, na caboverdiana ilha de S. Vicente, onde tive tratamento VIP, com direito a carro à saída da escada do avião e passagem pela sala dos passageiros importantes até então só usada pelo Papa João Paulo II, como fizeram questão de me dizer. Nessa noite de 20 de Maio dormi no Aparthotel Avenida, onde fiquei duas noites, antes de voar para a Vila do Maio, antiga Vila do Porto Inglês, designação que ficou do tempo em que os ingleses exploravam o sal dessa terra e eram armadores locais.
Na cidade da Praia, fiquei no Hotel Oásis Atlântico Praiamar, na zona das embaixadas e perto da Assembleia Nacional Popular como a recepcionista Lóide pode testemunhar. Ela lembra-se de mim, o hóspede que ela julgava importante por ter sempre motorista à hora marcada.
Foi neste hotel que conheci, fugaz e ocasionalmente, Francesca Perucci, então em Cabo Verde a recolher dados para a ONU sobre a situação das mulheres do arquipélago, país que então dependia da emigração masculina, o que fazia com que recaísse sobre as mulheres o exclusivo da responsabilidade dos filhos nascidos de uma ou de mais ligações maritais.
Volto à noite de ontem, dia 17 de Novembro deste 2023, e a ver-me fruir, numa cadeira de orquestra do Coliseu do Porto, o concerto dos 40 anos de carreira de Tito Paris. Agora ele chama o primeiro cúmplice, Dany Silva, para ambos cantarem “Crioula de São Bento” - “Meter conversa com ela // dar um passeio com ela // estar um bocado com ela “...
Há 33 anos, em Cabo Verde, além de ter entrevistado Aristides Pereira, o primeiro presidente do país, tive, por exemplo, um almoço, a dois, com o poeta e então ministro da Justiça, Corsino Fortes, poeta que confessou querer ser tambor no coração do imbondeiro, ambos já sem medo de ter medo, como outrora cantara outro poeta caboverdiano, Daniel Filipe - (...)“de mãos nos bolsos e o coração cheio de amargura // cumprindo os pequenos ritos quotidianos // cigarro após o almoço // café com pouco açucar // má língua e literatura”.
Agora no palco do Coliseu do Porto, Tito Paris está acompanhado do angolano Paulo Flores. A Maria Teresa Donato, na cadeira de orquestra ao lado da minha, também ela nascida em Angola, diz que o Paulo Flores é um dos grandes. Ela está quase a levantar-se e a dançar ali mesmo, à frente de uma cadeira de orquestra para desespero de uma assistente de sala.
Eu já sabia que o próximo convidado e cúmplice seria Rui Veloso. O que não sabia é que “O Meu Primeiro Beijo” também é ou pode ser uma belíssima morna - (...) Quero o meu primeiro beijo // não quero ficar impune // e dizer-te cara a cara // muito mais é o que nos une // que aquilo que nos separa! (...)”
Ontem, no Coliseu do Porto, sala onde vi pela primeira vez um filme para 17 anos, quando ainda não tinha 17 anos (uma comédia com Sammy Davis Jr), ontem foi a noite em que vi e ouvi pela primeira vez Sandra Horta, uma caboverdiana cuja voz enche uma sala como o Coliseu do Porto.
Quando, há 33 anos, estive em Cabo Verde pela primeira vez, a Sandra Horta ainda era uma criança. Ontem foi a última convidada de Tito Paris. Não actuou descalça como actuava Cesária, outra voz caboverdiana e do Mundo que também foi recordada e foi homenageada.
“Quem mostrava esse caminho longe?”
Sodade. Saudades de Cabo Verde.

17.11.2023 14h47mn

Numa tarde aos papéis

12.11.2023 17h00mn

Na Universidade, há 52 anos

Há 52 anos, quando nem sonhávamos com a internet e com os telemóveis, eu vivia em Coimbra, acabado de chegar à Universidade, há 52 anos, no dia 12 de Novembro de 1971, eu escrevi uma carta para os meus pais, a primeira que lhes escrevi de Coimbra.

A carta foi arquivada nos papéis que os meus pais quiseram guardar, papéis que eu viria a herdar e a juntar aos papéis que eu próprio também, entretanto, comecei a arquivar. Por uma daquelas coincidências que gostamos de sublinhar, apareceu-me hoje, dia 12 de Novembro de 2023.

11.11.2023 17h30mn

Na AJHLP a redescobrir Poesia

Hoje, na Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP), a ouvir os segredos da oficina de criação poética de Raquel Patriarca. Bibliotecária, historiadora e contadora de histórias foi fotografada e desenhada por mim durante a sessão em que foi a protagonista. Estes auto-retratos de poetas enquanto jovens é uma boa iniciativa da AJHLP.

11.11.2023 09h57mn

No meu sonho mais recente

Em sonho por mim sonhado

intensa e recentemente

sonhei-me um adolescente,

sem carta de condução

a conduzir um carrão,

um Testarossa roubado

na zona de aparcamento

de um hotel de cinco estrelas

construído aqui ao lado.

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Júlio Roldão

03.11.2023 11h28mn

No meio de mais papéis

02.11.2023 10h08mn

No regresso à publicidade

As noites 100% publicidade eram noites sem dormir, vulgo "diretas", a ver filmes de anúncios que eram pequeníssimas e pequenas metragens com a qualidade do bom cinema. A Norte, tinham lugar nas instalações da Exponor, em Matosinhos, num "festival" sempre muito concorrido. A última noite 100% publicidade a que assisti aconteceu há mais de vinte anos, mas a t-shirt que era oferecida a todos os visitantes ainda resiste mesmo tendo sido transformada em pijama.

31.10.2023 16h56mn

Nas páginas de um jornal

Está a fazer oito anos, foi a 1 de Novembro de 2015, que o jornalista César Príncipe, numa intervenção proferida em Coimbra num almoço de trabalhadores e antigos trabalhadores do Jornal de Notícias, disse que já ninguém, exceptuando alguns accionistas, alguns banqueiros e alguns governantes, refere um qualquer título da Imprensa escrita com o sentimento de posse que se traduz na expressão "o meu jornal". À data, esta verdade não era tão visível como é hoje.